Meia da Nazaré: entre a realidade e a nostalgia

Partida da edição de 2017 (foto página facebook da Meia Maratona da Nazaré)


A atualidade, por vezes, traz-nos a nostalgia. Ou esta alerta-nos para o momento atual. Tudo junto, neste caso. De facto, realizou-se ontem a 43ª edição da Meia Maratona da Nazaré. A denominada “mãe” das meias maratonas portuguesas, sedutora e que arrastava multidões, hoje parece decrépita, desmazelada, nada atractiva.
Nunca a corri, mas vários anos a acompanhei com crónicas para o “Diário Popular”, para o “Correio da Manhã”, para a “A Bola”, na “Revista Atletismo” … Recordo, acima de tudo, a carrinha de caixa aberta para jornalistas e fotógrafos acompanharem a cabeça da corrida. As orelhas geladas do frio e da deslocação do ar. As crónicas ao vivo de algumas rádios. Um ou dois gravadores a voarem numa manobra mais inesperada que fazia perder o equilíbrio…
Recordo as passagens em Famalicão, os chuveiros improvisados, apesar de estarmos em novembro. Recordo as dificuldades em passar os metros e metros de grades do funil final para falar com os atletas, que estavam ali minutos longos à espera de ver registada a sua chegada. Recordo a dificuldade em saber das classificações, «é melhor procurarem almoço e voltarem depois…», as dificuldades em almoçar naquela cidade nos anos mais fortes da prova.
Recordo as cerimónias no salão, recordo as entregas de dorsais (sim, porque chegava cedo e queria ver tudo), recordo também o trabalho com o carro relógio! Recordo tantos e tantos amigos que ali corriam. Recordo ainda que, quando se elaboravam calendários havia uma data que se respeitava: «nesse dia não, pá, é a Nazaré! Cai lá tudo!».
E, depois, recordo momentos mais fracos da prova, com muito menos gente, mas mantendo-se as dificuldades das classificações. Recordo que, em determinada altura deixei de comer na Nazaré. Uma má experiência levou a isso. «Toca a andar e a comer no caminho…».
Aos poucos, a Meia da Nazaré foi definhando, deixou de se promover, viveu do seu próprio sucesso, não se promoveu, definhou. Este ano, com 569 concorrentes atingiu o terceiro número mais baixo de sempre, apenas passado pelos 146 da edição inaugural, então um sucesso, e depois pelos 310 da segunda edição!

Foto da história da Meia Maratona da Nazaré


Atualmente, sempre que posso, estou a tentar digitalizar as minhas crónicas, entrevistas e reportagens para libertar espaço físico de dezenas de caixas de arquivo com as páginas dos jornais. Lembrei-me que já tinha passado por 1992, a última prova em que a Nazaré conheceu mais de 2000 participantes. 


Já não tinha fotografia, como em anos passados, mas ainda dava para lá ir fazer a reportagem e falar com os vencedores. Em 1987 atingiu o máximo de participantes com 3077 registados no final!
Este ano a prova conheceu apenas um sexto do número recorde. A falta de comunicação da prova em relação às restantes é notória e com tanta oferta no mercado tudo se dispersa. Seja no preço das inscrições, seja nas recordações anteriores.
Este ano, desportivamente, o vencedor, José Sousa, do Eirense, cumpriu os 21,097 km da prova em 1.12.24. É o terceiro homem que gastou mais tempo para completar a Meia da Nazaré em toda a sua história (ver página de João Lima com resumo da competição)! No segundo lugar, mas muito distante, ficou o individual Bruno Lourenço (1.14.41) enquanto Nuno Romão (1.14.57), também individual, subiu ao degrau mais baixo do pódio.
Em femininos, a triatleta Marion Kim Mangrobang, do Rio Maior Triatlo Clube, foi a vencedora com 1.26.26. Só cinco vencedoras na história da competição foram mais lentas. E, já agora, apenas em nota de recordação, em 1980, quando Rosa Mota venceu pela primeira vez, com 1.23.57 (curiosamente no ano seguinte venceu em 1.16.30, sendo o seu recorde na Nazaré de 1.10.31, em 1989), a segunda classificada foi uma miúda, de 11 anos, que correu em 1.24.02, Fernanda Ribeiro de seu nome. Voltando à edição de 2017, a segunda classificada, a cerca de seis minutos da vencedora, foi Cláudia Batalha, do AA Mafra (1.32.11), sendo terceira Alice Basílio, também do AA Mafra (1.33.49).
Aproveitamos para divulgar aqui um vídeo histórico da Meia Maratona da Nazaré, produzido pela RTP e NazareTV, com narração do saudoso Jorge Lopes. 




Encontrei-o por acaso num site meio escondido, que partilho agora convosco.



Comentários