Inês Henriques: trabalhar o dobro… para o sucesso

Inês Henriques após o triunfo (foto: Getty Images for IAAF)


Sobre o triunfo e o recorde mundial de Inês Henriques, enfatizei, num “post” numa rede social, o quanto a rio maiorense trabalhou para este resultado. As entrevistas pós sucesso em Londres revelaram o que sempre notei nas marchadoras de Rio Maior, nomeadamente as de maior sucesso, como Susana Feitor, Vera Santos e Inês Henriques: trabalho, humildade e gratidão. Por trás destas qualidades, pessoais e intrínsecas, tem de estar a personalidade do seu treinador comum (durante grande parte das suas carreiras, no caso da Inês, sempre), Jorge Miguel.
Mas este pensamento de agora não é sobre isso, mas com algumas curiosidades sobre os campeões mundiais de marcha em Londres 2017 e o que eles têm de comum com Portugal. Menos fulgurante a associação da chinesa Jiayu Yang, campeã mundial de 20 km marcha, a mais jovem dos quatro campeões (21 anos), e que pela sua idade quase podia ser filha de um dos dois campeões dos 50 km! E no que é que podemos associá-la aos restantes campeões? É que a chinesa fez três provas de 20 km antes dos mundiais, onde chegou e bateu o seu recorde pessoa! Portanto necessitou de 80 km em provas oficiais, vencendo as últimas três para ser uma das mais jovens campeãs mundiais de sempre na marcha feminina.
O mesmo fez Eider Arévalo, colombiano de 24 anos, que também fez três provas de 20 km antes dos mundiais, mas com a particularidade de ter vencido todas! E deu-lhe sequência nos mundiais de Londres, com recorde nacional da Colômbia, embora em termos de resultados relativos, este tenha sido o pior resultado dos quatro campeões, mas terá uma atenuante, pois foi no “pico” mais forte do calor. Uma das provas em que Eider Arévalo participou foi no Grande Prémio de Rio Maior (já cá tinha estado em 2015), mas agora com uma vitória bem conseguida. O colombiano também somou 80 km para chegar ao título.
Começámos com a mais nova dos campeões de 2017, passamos agora ao mais velho, o francês Yohan Diniz, neto de portugueses, que não deixou de passar a mensagem de que dividia a medalha com a pátria dos ascendentes, França e Portugal! Diniz foi o que palmilhou menos para ser campeão. Apenas completou 65 km! Fez duas provas de 5.000 m em pista coberta, outra na mesma distância ao ar livre, e desistiu numa prova de 20 km! Chegado a Londres, bateu o recorde dos campeonatos!

"Formiguinha" de trabalho

E finalizamos com a “nossa” Inês! De todas a que mais trabalhou, tendo por isso uma justíssima recompensa (as compensações monetárias pelo título e pelo recorde mundial, a que se juntará o prémio do Estado português, certamente, para além de ser colocada no plano mais alto da alta competição até aos Jogos Olímpicos de 2020).




E porque dizemos que foi a que mais trabalhou (ver gráfico 1)? É que, para além dos treinos (um parâmetro que apenas os atletas e os seus treinadores têm), a portuguesa completou, oficialmente, 205 km (não contabilizámos os quilómetros que percorreu antes de ser desclassificada na Taça da Europa)! Apenas menos 15 km que a soma dos km oficiais completados dos três restantes campeões!
A atleta de Rio Maior fez a primeira prova de 50 km (estabelecendo o primeiro recorde mundial oficial na distância), depois fez cinco provas completas de 20 km (na sexta foi desclassificada), fez ainda uma prova de 10.000 m em pista no nacional de clubes, e completou os 50 km de Londres 2017 com o título e recorde mundial superado.
Entre as provas de 50 km, que venceu em ambas as ocasiões, nunca triunfou, sendo segunda em três ocasiões e outras tantas em quarto lugar. Saber esperar pelo momento. A glória de Inês Henriques.

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